domingo, 27 de setembro de 2009

Mobilização para democratizar a comunicaçã

I Conferência Livre de Comunicação para a Cultura, em Chã Grande (PE), reúne os precursores de uma mídia, livre e protagonista, disposta a mudar os rumos da comunicação no país

Por Danilo Almeida e Mônica Kimura

Encrustrada no meio de um grande vale verde e de clima ameno, encontra-se a pequena e aprazível Chã Grande, município de Pernambuco, distante 89 quilômetros da capital Recife. Dentro deste cenário de impressionante beleza acontece a I Conferência Livre de Comunicação para a Cultura, evento que visa produzir propostas concretas do setor tanto para a I Conferência Nacional de Comunicação, quanto para a II Conferência Nacional de Cultura, a serem realizadas respectivamente em dezembro de 2009 e março de 2010. A realização do evento é do Ministério da Cultura (MinC), por meio da Secretaria de Cidadania Cultural (SCC), da Universidade Federal de Pernambuco e da representação Nordeste do MinC.

101_3506.jpg
Célio Turino comentou sobre a importância de uma
rede de comunicação dos Pontos de Cultura

“Este é um evento de muita importância e que foi gestado. Um dos objetivos dela é construir a rede de comunicação para a cultura, entender que é possível, a partir da rede de Pontos de Cultura, pensar em uma comunicaçao para a cultura”, inicia Juana Nunes, coordenadora-geral de Mobilização e Articulação em Rede (MARES) da SCC durante a cerimônia de abertura do encontro. Ela lembra que na I Conferência Nacional de Cultura a comunicação foi um dos temas e que hoje mobiliza uma grande rede entre os Pontos de Cultura, os Pontos de Mídia Livre para a construção de uma conexão forte que possa dar continuidade ao movimento de comunicação para a cultura. Também compuseram a mesa de abertura Célio Turino, secretário da Cidadania Cultural; Silvana Meireles, secretária de Articulação Institucional; Tadeu Di Pietro, representando a Fundação Nacional de Arte (Funarte); Octávio Pieranti, representante da Secretaria de Audiovisual (SAV); Joãozinho Ribeiro, coordenador executivo da Conferência Nacional de Cultura (CNC), e José Murilo Carvalho, representante da Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura (SEFIC).

A secretária da SAI, Silvana Meirelles, ressaltou que “vivemos um período especial, desde 2005, com a I CNC em que a área da comunicação foi a mais valorada”. Sua fala foi enfatizada por Célio Turino: “A cultura e a comunicação são os fundamentos de qualquer povo. Quando se perde o horizonte de comunicação para a cultura, o que sobra é uma comunicação unidirecional que estabelece a continuidade do sistema”. Segundo ele, o centro da luta de classes está na linguagem simbólica e na comunicação.

“Considero os Pontos de Cultura Pontos de Mídia, pois eles produzem a comunicação voltada para a cultura em suas comunidades. Por isso é dado aos Pontos de Cultura um estúdio multimídia”, afirma o secretário. “Colocamos os meios de produção nas mãos de quem produz. É uma oportunidade para criar uma rede de comunicação e desenvolver uma estratégia de guerrilha: desta vez, mídiática”, finaliza.

Novo edital
A secretária de Articulação Institucional, Silvana Meireles, aproveitou o momento da abertura para lançar o edital Periódicos Mais Cultura. “Pensamos na questão da democratização da informação e este é o objetivo do edital”, explica Silvana. Podem participar da seleção pública pessoas jurídicas, com ou sem fins lucrativos, que tenham por ofício a publicação de impressos de periodicidade mensal, bimestral ou trimestral distribuídos em território brasileiro, com ênfase mínima de 35% do conteúdo direcionado para cultura e artes. Cada pessoa jurídica poderá inscrever apenas uma publicação. Os periódicos selecionados deverão disponibilizar, com acesso livre, todo o conteúdo da edição impressa em plataforma na Internet simultaneamente à circulação do meio impresso em bancas e/ou para seus assinantes. Mais informações no endereço eletrônico:

http://www.cultura.gov.br/site/2009/09/23/edital-de-periodicos-mais-cultura/

Conferência de abertura
Sob o tema Cultura e Comunicação – diretrizes e interfaces para a I Conferência Nacional de Comunicação e II Conferência Nacional de Cultura, foram discutidos pontos de grande relevância da atualidade sobre o setor. À mesa, Ivana Bentes, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Octávio Pieranti (SAV), Joãozinho Ribeiro (CNC) e Jonas Valente (Coletivo Intervozes).

“Há uma defasagem radical entre práticas sociais e estrutura legal”, Ivana Bentes. A professora relembra que o último plano político para a comunicação ocorreu durante a ditadura militar na década de 1970. Construiu-se, naquele momento, um monopólio que vigora até hoje, para grande prejuízo de todos os setores da sociedade. “Da mesma forma que a TV esteve no centro do plano da ditadura, a banda larga deve ser consolidada e universalizada”, afirma Ivana.

Sobre a interface entre a comunicação e a cultura, Pieranti lembra: “Não há como pensar em uma sem a outra. Devemos pensá-las de forma paralela. Espero que esta conferência seja um passo inicial para a transformação do pensamento com relação a estes dois campos, já que é preciso construir uma estrutura nova para possibilitar a democratização”.

Joãozinho Ribeiro fala sobre tirar os brasileiros da invisibilidade cultural, pois “o direito cultural tem duas pontas: a do acesso e a do sujeito da ação. O direito cultural não protege o autor, mas os grandes conglomerados”. Fechando a fala, o poeta declama versos de sua autoria para inspirar os participantes da conferência: “Sou cantador do tempo, cantador que canta só, canta mal acompanhado”.

Jonas Chagas completa: “Esta intersecção tem que se tornar algo concreto para antes e depois das conferências. A conferência nacional é um avanço, sua realização é uma conquista, mas esta não pode ser um fim em si mesma”. Ele ressalta que o evento será um passo importante de uma grande caminhada que precisa ser empreendida por todos os interessados em uma comunicação mais eficaz e democrática.

O fotógrafo Davy Alexandrisky, do Campus Avançado, deu sua contribuição ao momento colocando que “conseguimos desesconder uma parte da pluralidade cultural do país através dos Pontos de Cultura. Agora precisamos des-silenciar isto”.

Leia mais em Abertura e primeiro dia da Conferência Livre

Nenhum comentário:

Postar um comentário